Blog

A verdadeira função dos seguros

Tempo de leitura: 6 minutos

Normalmente, o assunto “seguros” nos remete aos riscos que não queremos pensar que existem, não é mesmo?
E, além disso, muitas vezes o tema é inconscientemente associado a corretores ou gerentes de banco, que acabam oferecendo serviços de eficiência duvidosa.

Todavia, não há planejamento financeiro inteligente sem uma boa gestão de riscos e a contratação de alguns seguros essenciais.

Por isso mesmo, esta estigmatização do seguro é um obstáculo para o desenvolvimento de um planejamento financeiro completo e eficiente. Para que não haja mais dúvidas quanto à importância dos seguros, vamos explicar quais são as utilidades, as melhores estratégias para utilizá-los, os tipos de seguros e as armadilhas do mercado que você deve estar atento para evitar.

Risco

Começaremos tratando, de forma simples, de dois conceitos importantes: “risco da ruína” e “matriz de risco”.

O risco da ruína pode ser facilmente compreendido, pois é o risco de “reduzir a um ponto de não recuperação”. É, portanto, o risco que nunca devemos correr por opção. Um exemplo claro seria o de colocar todo o dinheiro em um investimento de alto risco, que pode dobrar ou desaparecer em um dia. Quem faria isso em sã consciência?

Da mesma forma, há de se perguntar: quem, em sã consciência, correria o risco de perder a capacidade produtiva e não ter uma estratégia para a manutenção de sua vida financeira? Ou, ainda, quem correria o risco de falecer e deixar seus familiares sem amparo financeiro, quando dependentes?

O segundo conceito é o de matriz de risco, que consiste em uma forma de avaliar e classificar os riscos aos quais estamos expostos de acordo com a gradação da probabilidade da ocorrência do evento indesejado versus o impacto financeiro deste evento. A imagem adiante ilustra:

Geralmente o seu perfil de investidor tende a considerar mais a sua disposição de correr riscos do que a sua capacidade e é essencial saber que a sua capacidade de correr riscos sempre deve vir primeiro. Isso reforça o fato de que o que deve sempre direcionar primeiro os seus investimentos são os seus objetivos! Ou seja, se você tem planos de utilizar o seu dinheiro no curto prazo, você não deve expor a sua carteira a ativos muito voláteis, mesmo que seu perfi

Seguros são precificados a partir da probabilidade de o evento segurado ocorrer. Sendo assim, seguros com alta probabilidade de sinistro não costumam possuir uma boa relação Custo X Benefício, pois acabam custando mais para uma menor proteção. Já os seguros de baixa sinistralidade costumam ter uma excelente relação Custo X Benefício, pois conseguem proteger grandes quantias com um custo justo.

Sendo assim, conseguimos tirar as seguintes conclusões ao avaliar os quadrantes da matriz acima:

  1. Os riscos de baixa probabilidade e baixo impacto: estes são riscos que podemos escolher proteger, ou não, de acordo com nossa conveniência, pois, se ocorrerem os eventos indesejados, seus efeitos serão reversíveis sem maiores dificuldades;
  2. Os riscos de alta probabilidade, e alto impacto: nenhuma seguradora vai aceitar proteger, ou os seguros serão caríssimos. Sendo assim, devemos focar na criação de uma reserva para minimizar o impacto deste evento e em uma boa estratégia para minimizar a probabilidade de sua ocorrência;
  3. Os riscos de alta probabilidade, e baixo impacto: estes também são riscos que podemos escolher proteger, ou não, de acordo com nossa conveniência. No entanto, avaliando o Custo X Benefício de seguros para eventos nesta categoria, tende a fazer sentido a mesma estratégia do Item 2.
  4. Os riscos de baixa probabilidade, e alto impacto: estes são os riscos que podemos e precisamos proteger, tendo em vista que, por ser baixa a probabilidade, a cobertura se torna mais barata, e, por ser alto o impacto, a proteção se torna importantíssima – ante ao risco da ruína.

Aqui existe uma observação importante a ser feita: o impacto financeiro de um evento varia de acordo com o momento e o planejamento financeiro de cada um. O seguro de um carro é mais importante para quem tem apenas um carro do que para quem tem 3.

Além disso, imagine o seguinte cenário. Uma médica acaba de sair da residência e começa a trabalhar em outra cidade, onde precisa arcar com custos de moradia. Toda a sua reserva foi consumida durante a residência devido à redução de renda que teve no período e seu custo mensal é relativamente alto agora. Toda a sua renda é proveniente de plantões e a sua contribuição com o INSS é em um salário-mínimo. 

Agora imagine esta mesma médica daqui a 5 anos, com o mesmo padrão de vida e a mesma situação em relação a seu trabalho, mas com um valor total de R$400.000,00 reais investidos e sua reserva de emergência bem estruturada.  

Caso tenha algum problema de saúde e se afaste por 5 meses do trabalho, é fácil perceber que o impacto financeiro no primeiro cenário seria muito maior, podendo resultar até mesmo em uma ação de despejo por inadimplência. Por mais que no segundo cenário o impacto financeiro exista e em valor monetário seja o mesmo, ele não afeta a vida desta médica da mesma forma. 

No primeiro cenário seria essencial a contratação de um seguro de incapacidade temporária, também chamado de DIT, mas no segundo cenário essa contratação seria opcional e somente seria recomendada para que pudesse trabalhar com uma reserva mais baixa. Além disso, pode haver também situações específicas que a seguradora não precifica ou avalia tão bem, como a distância para seu trabalho e se precisa pegar estrada todo dia para um plantão em uma cidade próxima por exemplo.

Voltando a falar sobre o risco de ruína, quais são estes riscos de baixa probabilidade e de alto impacto que poderiam nos levar a essa situação?

Em primeiro lugar, está o risco financeiro de quem, no início do seu período de acumulação patrimonial, não se protege contra a perda de sua capacidade produtiva (invalidez por acidente e por doença). Nestes casos, haverá custos para o resto da vida, porém sem receita, o que se traduz no maior déficit gerado entre as ocorrências indesejadas.

Em segundo lugar, está o risco financeiro de quem, sem acumulação suficiente, não protege o risco de falecer e deixar seus dependentes financeiros sem meios para manutenção de seu padrão de vida, ou, até subsistência.

Existe mais um importante seguro nesta classificação, que tende a ser muito barato e às vezes ignorado: o seguro residencial. Neste seguro existem diversas coberturas interessantes, mas a que é de fato necessária é a de proteção contra incêndios, que oferece uma proteção essencial para um bem que você levou anos para conquistar e que possui um custo extremamente baixo.

Estes são os riscos mais importantes de serem dimensionados e cobertos. Depois destes, que podem ser de altíssimo impacto, seguem outros de menor impacto, mas que, de acordo com a análise casuística podem se revelar muito importantes:

  • Doenças graves, que requerem tempo, investimentos em tratamentos, afastamento do trabalho, remédios etc.;
  • Cirurgias e internações hospitalares, que tomam o tempo produtivo e geram custos;
  • Seguro de automóvel, que também conta com diversas assistências e, se tratando de Brasil, muitas vezes não conseguimos nos imaginar sem;
  • Seguros para portáteis;
  • Seguro de responsabilidade civil.

Olhando para a realidade médica, precisamos nos aprofundar um pouco mais no seguro de responsabilidade civil, também chamado de seguro profissional. Este seguro oferece proteção contra riscos jurídicos e não só ajuda nas custas processuais em si como sua cobertura também se estende a indenizações, acordos e até mesmo gerenciamento de crise e imagem. Cada especialidade médica possui riscos diferentes, mas isso já está precificado em cada seguro e a questão aqui acaba não sendo sobre precisar ou não do seguro e sim sobre estar protegido contra a dor de cabeça que todo o processo e consequências que um processo traria.

Conclusão

Explicados os conceitos acima, espera-se ter deixado claro que o planejamento de risco deve ser visto como uma forma de garantir o acesso ao sucesso financeiro, posto que seja pelo caminho principal, seja pelo caminho secundário, o sucesso e a paz financeira serão sempre possíveis. É sobre não terceirizar o cuidado com o seu sucesso para o acaso.

As coberturas, que podem ser as mais diversas, precisam se adequar à necessidade e à possibilidade financeira de cada um, para que a contratação de um seguro não vise à proteção de um risco já gerenciado, ou para que seu valor não impeça a acumulação.

Seguro é sobre ser prevenido (prever, ver antes, enxergar além), e criar as bases para que os planos financeiros de sua vida e família não permaneçam à mercê do acaso. Além disso, a máxima “antes cinquenta anos adiantado que um dia atrasado” expressa uma grande verdade.

Insights

Agora que você já entendeu a importância dos seguros para sua verdadeira realização financeira, que engloba a paz e a segurança, seguem algumas dicas de mercado para que você não caia em pegadinhas.

  1. Cuidado com seguros que aplicam as regras previstas no artigo 769 do Código Civil Brasileiro. O que isso significa? Que se você, leitor que contratou o seguro, tiver um agravamento do seu risco em algum momento (uma doença nova, um estilo de vida mais perigoso, envelhecimento…) essas instituições podem tornar seu seguro muito mais caro, ou, pior ainda, negar o pagamento no futuro, caso algo aconteça contigo. Por isso, opte por seguros com congelamento de risco na contratação. 
  2. Cuidado com os seguros “resgatáveis”. Essa possibilidade de resgate no futuro torna seu seguro muito (mas, muito) mais caro. O resgate, na prática, é uma ilusão de que o seguro será gratuito, pois se ao longo dos anos a diferença de preço entre os seguros (resgatável ou não) for investida, você terá o seguro e mais dinheiro. Lembre-se: o seguro resgatável, e vitalício, é muito útil em situações específicas, como para quem busca proteção patrimonial e para quem não deseja resgatar o seguro em vida.

Se surgirem outras dúvidas, procure um planejador financeiro de sua confiança ou entre em contato conosco.

Luiz M. Wider – Planejador Financeiro
Rodrigo Ribeiro – COO Chief Operating Officer
Cauê Valença – Mentor de Customer Success